quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Mau humor

- Alfredo!

- Rogério!

- O voo atrasou, heim... Ficou com medo?

- Que nada. Voar pra mim é um grande prazer.

- Você é um dos poucos. Voar pra mim é um tormento.

- Que nada, rapaz, isso é bobagem.

- Mas me conta, como foi a viagem de volta!

- Ah, foi ótima! Bastante tranquila, dormi muito.

- Conseguiu dormir? Naquela poltrona desconfortável?

- Ora, nem era tão desconfortável assim. A minha até inclinava.

- Uns 4 graus, no máximo, não é? Ora, todo mundo sabe que poltrona de avião é superdesconfortável. Dormir é um tormento: você vira pra lá, vira pra cá, e quando consegue dar um cochilozinho, chega a quenga da aeromoça oferecendo barras de cereal!

- Ora, rapaz, não fale assim das aeromoças! As minhas mesmo eram belíssimas e muito educadas.

- Ah, claro. Sempre com o famoso "Aceita uma barra, senhor?" ou um "Refrigerante ou suco, senhor?". Ah, eu não tenho paciência para essas coisas.

- Nossa, que mau humor. Eu mal cheguei e sou recebido assim. Rogério, vamos conversar sobre coisas felizes. Coisas boas! Me conte da sua vida.

- Ah, minha vida está horrível. Meu chefe me pegou comendo a secretária dele, que por sinal ele comia também, e me demitiu. Chegando em casa descobri que minha mulher me corneou, eu bati nela e levei um processo. Minha filha está grávida de dois meses e o filho-da-puta do marido dela é o meu chefe. Meu filho é um vagabundo maconheiro que acabou de reprovar de novo a 8a série. E Alexandre agora virou Alexia.

- Meu Deus. Agora sei o motivo do mau humor.

- E nem venha você me falando Dele. Comprei uma água que o danado abençoou, passei QUINZE dias com desinteria! E sem um puto no bolso. Benção cara do inferno.

- Nossa Senhora! E o que será da sua vida agora? Você perdeu tudo o que tinha!

- Ah, que nada. Estou agora morando na casa de mamãe. Já me minha mulher ganhou a causa, a casa e o nosso Uno, tô com mamãe no apêzinho dela.

- Mas, e agora? Está procurando emprego, então?

- Que nada! A aposentadoria de mamãe é bem gorda. E eu vou começar a fazer téatro.

- Nossa. Vai ser ator, agora, é?

- É. Vai ver que é por aí que eu perdi os meus dons. Por sinal, tô indo pro rio, soube de um teste pra malhação. Vou me jogar.

- Ah, é? Então, tá, se joga.

- Se Joga, bixa.

- O quê?

- Foi o que o meu professor de teatro falou. Vocabulário novo, ainda tô aprendendo.

- Ah, tá. (..) Bom, Tô into prum barzinho ali.

- Eu pago o chopp.

- Tudo bem, vamos então.

- Eita, esqueci a carteira.

- Ok, eu pago o chopp.