quarta-feira, 28 de abril de 2010

Futuro do Presente... ou Presente do Futuro?

- Boa noite.

- Boa noite. (o motorista ri. Muito. O carro, com música alta. Uma névoa chega repentina)

- Habilitação e documento do veículo, por favor.

- Tá. (desliga o som. Os passageiros reclamam) Calma, galera, calma. Peraê que tá no porta-luvas. E ele tá lotado de planta. (ri. Os outros no carro riem mais alto)

- Planta? O senhor está guardando plantas no porta-luvas?

- É. Improvisei uma estufa. (encontra os documentos) Tá aqui, seu guarda.(ri, mas tentando prender o riso)

- Hum. (analisa os documentos) Senhor, por acaso o senhor ingeriu alguma bebida de conteúdo alcoólico?

- Álcool? (dá uma gargalhada) Não, de jeito nenhum.

- Tem certeza? Nenhum tipo de bebida alcoólica?

- Sou ecológico e naturalista. Você sabe quantos hectares de floresta são derrubados pra plantar cana? (quase que debocha do guarda)

- Senhor, por favor, queira me acompanhar.

- Pois não. (ele o acompanha. Os outros no carro lhe incentivam, rindo)

- Sabe usar o bafômetro? Já usou alguma vez?

- Dá lombra?

- Perdão?

- Não, nunca usei não. Mas tudo se tem uma primeira vez, não é mesmo? (risada amigável)

- Então vou lhe ensinar. Está vendo esse bocal branco?

- Hum. (sorri com o canto de boca)

- Você deve por a boca e soprar durante 5 segundos.

- Soprar? Nunca vi um bagulho pra sobrar. Normalmente eu puxo. (volta a gargalhar)

- Esse é pra soprar. Senhor, tem certeza que o senhor não ingeriu nenhuma bebida alcoólica?

- Tenho, sim senhor. (com convicção, rindo)

- Então pode soprar.

- Epa! Nêgo-bom tem álcool?

- Como?

- Nêgo-bom, nêgo-bom. Num tem uns bombons que acusam nessa parada aí, não é?

- Isso é mito. É preciso de 3 tacinhas de licor, por exemplo, pra acusar.

- Ah, tá certo.

- Pode soprar, senhor.

- Esse bagulho aí só apita com álcool, não é, Dotô?

- Sim senhor. Sopre, por favor.

- E como é a lombra desse bagulho aí, como é... bafômetro?

- Não é lombra, senhor. Você sopra e ele apita.

- Em vez de puxar, a gente sopra. Em vez de dar lombra, ele apita. Nunca vi bagulho tão sem graça. Ele num tá mofado não, tá? (ri muito alto. Os outros do carro também riem mais alto, apesar de não estarem ouvindo a conversa)

- Não senhor. O bocal é descartável.

(Ele assopra. teste negativo)

- Muito obrigado, senhor. Já pode ir.

- (Depois de soprar o bafômetro, sai cambaleando) Meeeeirmaao, doido. Que viagem é essa? Essa parada dá uma lombra muito forte! (ri, com entusiasmo)

- É a falta de oxigênio no cérebro, senhor. Você passou cinco segundos sem respirar.

- Falta de quê? Ah, realmente. Chega tô com falta de ar aqui.

- Já pode ir, senhor. O teste deu negativo.

- Olha, tem um pessoal dentro do carro que iam gostar disso aqui. Aê, galera, vem provar esse bagulho novo!

- Senhor, só o motorista é acionado para usar o bafômetro. Por favor, já pode ir.

- Nem a baga?

- Não, senhor. Boa noite.

- E onde é que tu arruma isso.

- Se o senhor não for embora, vou ter que lhe prender.

- Tá, mas eu posso ficar com essa parada?

- Vá embora.

- Tá bom, tá bom. Boa noite, seu guarda. (para os passageiros) Aê, galera! Que lombra é essa, mano! (Todos riem, felizes)

- Boa noite.

(o carro vai embora. A música vai diminuindo conforme se afastam. Outro guarda chega para conversar)

- Opa, capitão.

- Opa.

- E esse último aí. Limpo?

- Zero por cento. Depois que legalizaram, ninguém quer mais saber de beber.

- É foda. Malditos filhos do Reaggae. Bem, boa noite, capitão.

- Boa noite.

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